O Brasil exportou US$ 5,9 bilhões em alimentos industrializados durante agosto, registrando queda de 4,8% em relação a julho e de 1% comparado ao mesmo mês de 2024. O recuo interrompe a sequência de crescimento e reflete diretamente o impacto da tarifa adicional de 50% aplicada pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
Os dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) mostram uma clara mudança no cenário exportador: enquanto os EUA reduziram drasticamente suas importações, a China consolidou sua posição de maior comprador, adquirindo US$ 1,32 bilhão em produtos brasileiros – alta de 51% em relação a agosto de 2024.
A sobretaxa americana atingiu em cheio os principais produtos da pauta exportadora brasileira. Os açúcares foram os mais afetados, com queda brutal de 82,3% comparado a agosto de 2024, praticamente zerando as vendas no período. As proteínas animais, segundo item mais relevante nas exportações para os EUA, despencaram 43,3% na mesma comparação.
“O resultado das exportações para os EUA em agosto reforça a necessidade de diversificação de mercados”, analisa João Dornellas, presidente executivo da ABIA. A participação norte-americana no total exportado pelo setor caiu de 7,4% para 7%.
A entidade estima que as vendas de alimentos atingidos pela tarifa para o mercado americano podem despencar até 80% entre agosto e dezembro, representando perda potencial de US$ 1,35 bilhão.
Contrastando com o cenário americano, a China disparou nas compras de alimentos brasileiros. Com US$ 1,32 bilhão em agosto, o gigante asiático representa agora 22,4% de todas as exportações do setor, puxado principalmente por proteínas animais (US$ 909,7 milhões, +67%) e açúcares (US$ 326,7 milhões, +20,2%).
O crescimento chinês demonstra a capacidade do mercado asiático de absorver a produção brasileira, oferecendo alternativa concreta às barreiras comerciais americanas.
Uma das principais novidades do cenário exportador foi o salto das vendas para o México, que totalizaram US$ 221,15 milhões em agosto (3,8% do total exportado). O crescimento foi impulsionado especialmente por proteínas animais, com alta impressionante de 368,5% em relação a agosto de 2024.
“O avanço do México coincide com a retração das vendas aos Estados Unidos, indicando possível redirecionamento de fluxos comerciais”, explica Dornellas.
Mesmo enfrentando turbulências no mercado externo, a indústria alimentícia brasileira mantém performance sólida no mercado interno. Nos primeiros sete meses de 2025, o faturamento alcançou R$ 780 bilhões, representando crescimento nominal de 10,2% comparado ao mesmo período de 2024.
As vendas reais cresceram 2,8%, enquanto a produção física avançou 2% – números que contrastam positivamente com a desaceleração da economia brasileira no segundo trimestre.
O setor de alimentos registrou 2,114 milhões de postos de trabalho formais em julho, crescimento de 3,3% em relação a julho de 2024. Foram criadas 67,1 mil novas vagas no período, totalizando 226 mil empregos em toda a cadeia produtiva.
Atualmente, a cadeia da indústria alimentícia emprega 10,5 milhões de pessoas, correspondendo a 10,3% da população ocupada no país.
O setor enfrenta pressão crescente nos custos de produção. Insumos como milho, leite, cacau e café mantiveram preços elevados no primeiro semestre, enquanto embalagens subiram mais de 15% no comparativo anual.
O custo industrial de produção de alimentos acumulou alta de 7,9%, ligeiramente superior à inflação de alimentos e bebidas do IPCA (7,27%) no período janeiro-agosto.
A ABIA projeta que as exportações gerais do setor podem recuar 4,5% no pior cenário entre agosto e dezembro, com queda anual de 2%. O faturamento da indústria deve ter recuo de 0,6% no ano.
“A relação comercial Brasil-Estados Unidos no setor de alimentos é sustentada por cadeias produtivas integradas. Preservá-la por meio de diálogo equilibrado é fundamental para garantir empregos e segurança alimentar em ambos os países”, destaca o dirigente da ABIA.